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Authors: Helen Fielding

O DIÁRIO DE BRIDGET JONES (3 page)

BOOK: O DIÁRIO DE BRIDGET JONES
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  • Mark, esta é
    Bridget, filha de Colin e Pam — disse Una, enrubescendo, toda
    agitada. — Bridget trabalha no ramo editorial, não é,
    Bridget?

  • É
    verdade — respondi não sei por quê, como se
    estivesse participando de um programa de rádio ao vivo
    pelo telefone e prestes a perguntar a Una se podia "mandar um
    alô para meus amigos Jude, Sharon e Tom, meu irmão
    Jamie, o pessoal da editora, mamãe, papai e todos os
    presentes no bufê de peru ao
    curry.

  • Bem, vou deixar
    vocês jovens a sós — disse Una. — Arre!
    Acho que vocês não agüentam mais a gente, esses
    velhos bobocas.

  • De jeito nenhum —
    disse Mark Darcy sem jeito, tentando dar um sorriso, enquanto
    Una, depois de revirar os olhos, colocando a mão no peito e
    dando uma risadinha cacarejante, nos deixou imersos em um silêncio
    mortal.

  • Err, ahn. Está
    lendo algum, ahn... Tem lido algum livro interessante? —
    disse ele.

Ah, pelo amor de
Deus.

Tentei
freneticamente me lembrar da última vez que eu tinha lido um
livro recomendável. O problema de se trabalhar com livros
é
que ler nas horas vagas é meio
parecido com ser gari e à noite passear no lixão.
Estava no meio de
Homens são de Marte,
mulheres são de Vênus,
que Jude
me emprestou, mas eu não tinha muita certeza se Mark Darcy
aceitaria ser considerado um marciano, apesar de claramente
estranho. Aí me lembrei de um livro perfeito.

  • Backlash,
    de Susan Faludi — respondi, orgulhosa.
    Boa! Na verdade, não tinha exatamente lido o livro, mas era
    como se tivesse, já que Sharon falou tanto nele. De todo
    jeito, opção totalmente segura já que sem
    chances do mocinho certinho de casaco de losangos ter lido um
    tratado feminista de 500 páginas.

  • Ah, é mesmo?
    — disse ele. — Li logo que saiu. Você não
    acha que a autora exagerou nos argumentos em defesa da mulher?

  • Bem,
    quer dizer, acho que nem
    tanto...

    respondi em pânico, tentando achar um jeito de mudar de
    assunto. —Você passou o Ano-Novo com seus pais?

  • Passei —
    disse ele ansioso. — Você também?

  • Passei.
    Não. Fui a uma festa em Londres ontem à noite. Estou
    meio de ressaca, aliás. — Falei mais um pouco de
    amenidades, meio nervosa, para que Una e mamãe não
    achassem que eu era um tal fracasso com homens que não
    conseguia conversar nem com Mark Darcy. — Mas eu acho que não
    se pode tecnicamente esperar que as resoluções de
    Ano-Novo comecem no primeiro dia do ano, não? Em primeiro
    lugar, porque esse dia é uma continuação
    do
    réveillon,
    os
    fumantes já estão fumando e é impossível
    querer que parem de repente à meia-noite com tanta nicotina
    no sangue. Da mesma forma, não é uma boa idéia
    começar uma dieta no primeiro dia no ano, já que você
    não pode fazer um controle do que come e precisa comer
    livremente, sempre que necessário, para diminuir a
    ressaca. Acho que seria bem mais sensato se as pessoas
    começassem a colocar em prática suas resoluções
    no dia 2 de janeiro.


Talvez
fosse bom você comer alguma coisa — disse ele, e de
repente foi em direção ao bufê, me deixando
plantada sozinha ao lado da estante, enquanto todo mundo me
olhava, pensando: "É por isso que Bridget não
casa. Ela afasta os homens."

O pior
era que Una Alconbury e mamãe não iam deixar a coisa
assim. Fizeram com que eu circulasse com bandejas de minipepinos em
conserva e taças de
sherry
numa
tentativa desesperada para que eu tropeçasse em Mark
Darcy. Acabaram ficando tão frustradas que, quando parei a um
metro e meio dele com a bandeja de minipepinos, Una atravessou a
sala rápido como uma águia e disse:


Mark,
antes de ir você precisa anotar o telefone de Bridget. Assim
vocês podem se falar em Londres.

Foi impossível
não ficar vermelha. Podia sentir o calor subindo pelo pescoço.
Agora Mark ia pensar que eu tinha pedido para ela fazer isso.


Tenho
certeza de que a vida de Bridget em Londres já é bem
agitada, Sra. Alconbury — disse ele. Hum. Eu não queria
que pegasse meu telefone ou tomasse qualquer iniciativa do tipo,
mas ele não precisava deixar tão claro para todo
mundo que não queria. Quando baixei os olhos, vi que ele usava
meias brancas com estampas de abelhinhas amarelas.

  • Posso lhe oferecer
    um pepino? — perguntei, com a intenção de
    mostrar que eu tinha um bom motivo para aparecer, mais
    relacionado a pepinos em conserva do que a números de
    telefone.

  • Não,
    obrigado — disse ele, me olhando meio assustado.

  • Tem certeza? Então
    uma azeitona recheada? — insisti. — Cebolinhas douradas?
    — insisti mais. — Cubos de beterraba?

  • Obrigado —
    agradeceu ele, desesperado, pegando uma azeitona.

  • Bom proveito —
    falei, vitoriosa.

Lá pelo final
da reunião, vi que ele foi agarrado por sua mãe e Una,
que o trouxeram até onde eu estava e ficaram atrás
dele, enquanto Mark perguntava, duro:


Vai
voltar de carro para Londres? Vou ficar aqui, mas posso fazer com que
meu carro leve você.


Ué,
o carro anda sozinho? — perguntei.
Ele ficou meio
desconcertado.

  • Arre, boba, Mark
    tem um carro com motorista da empresa onde trabalha — disse
    Una.

  • Obrigada, é
    muito gentil — falei. — Mas volto de trem de manhã.

2h
da manhã
. Ah, por que sou tão
pouco atraente? Por quê? Até um homem que usa meias com
estampas de abelhinhas me acha horrível. Detesto Ano-Novo.
Detesto todo mundo. Exceto Daniel Cleaver. Não importa, tenho
uma enorme barra de chocolate ao leite Cadbury que sobrou do
Natal, além de uma garrafinha de gim-tônica. Vou
consumi-los e fumar um cigarro.

TERÇA-FEIRA,
3 DE JANEIRO

58,9
kg (caminho célere rumo à obesidade. Por quê? Por
quê?), 6 unidades alcoólicas
(excelente),
23 cigarros (m. b.), 2.472 calorias.

9h.
Argh. Não posso nem pensar em ir para o trabalho. A única
coisa que me faz aceitar a idéia é pensar em ver Daniel
de novo, mas até isso é pouco indicado já que
estou gorda, com uma espinha no queixo e meu único
desejo é sentar no sofá, comer chocolate e ver os
especiais de Natal na tevê. Parece errado e injusto que
primeiro você seja obrigado a aceitar o Natal, com todos
os seus estressantes desafios emocionais e financeiros, e depois de
repente ele acabe exatamente quando você estava começando
a entrar na onda. Eu estava começando a gostar dos
serviços públicos não funcionarem e de não
ter nada demais em ficar na cama o quanto quisesse, comendo tudo
o que bem entendesse e bebendo sempre que tivesse oportunidade, mesmo
de manhã. E subitamente somos todos obrigados a seguir uma
autodisciplina como se fôssemos galgos jovens e esguios.

l0h.
Argh. Perpétua, um pouco mais velha e por isso pensando
que tem o direito de tomar conta de mim, estava irritada e
mandona, falando sem parar até a exaustão sobre a mais
recente mansão de meio milhão de libras que está
pensando em comprar com seu namorado Hugo, rico e superesnobe:


Ai,
a casa
é
de
frente para o norte mas fizeram uma coisa muito esperta com a luz.

Dei uma
olhada triste para ela, com seu traseiro enorme apertado numa saia
vermelha e um colete estranho de listras amarrado por cima. Que
maravilha nascer com a segurança que vem do fato de ser
milionária. Perpétua podia ficar do tamanho de um
Renault Espace e não dar a mínima. Quantas horas,
meses, anos eu já passei preocupada com a balança
enquanto Perpétua procurava alegremente abajures com pés
de porcelana em forma de gato na sofisticada Fulham Road? Mas ela
está se privando de uma das melhores formas de felicidade. As
pesquisas provam que a felicidade não depende de amor,
segurança ou poder, mas de buscar metas atingíveis: e o
que é uma dieta se não isso?

Na
volta para casa em frustração pós-Natal comprei
na liquidação um pacote de enfeites de chocolate para
árvore de Natal e uma garrafa de 3,69 libras de vinho
espumante da Noruega, Paquistão ou qualquer coisa assim.
A seguir, com a sala iluminada só pela árvore de Natal,
bebi à beça e comi dois pasteizinhos de carne, o resto
do bolo de Natal e umas fatias de queijo Stilton, enquanto assistia
a
Eastenders,
fingindo
que era um especial de Natal.

Mas agora estou com
vergonha, me achando um nojo. Quase consigo sentir a gordura
explodindo do meu corpo. Não tem problema. Às
vezes é preciso mergulhar numa profunda intoxicação
alimentar para depois ressurgir das cinzas como uma fênix,
transformada numa linda e maravilhosa Michelle Pfeiffer. Amanhã
começa nova dieta espartana e tratamento de beleza.

Humm. Esse Daniel
Cleaver. Adoro seu jeito meio depravado, embora ele seja um cara
muito bem-sucedido e inteligente. Hoje ele contou uma coisa hilária
na editora: a mãe dele deu de presente de Natal para a tia um
porta-papel negro para cozinha e a tia achou que era uma escultura
de um pênis. Foi superengraçado. Depois ele perguntou,
com um jeito sedutor, se eu tinha ganhado alguma coisa
interessante de Natal. Acho que amanhã vou usar minha saia
preta.

QUARTA-FEIRA,
4 DE JANEIRO

59,4
kg (situação de emergência agora como se a
gordura estivesse armazenada desde o Natal e fosse
sendo liberada aos poucos), 5 unidades
alcoólicas
(melhor), 20 cigarros,
700 calorias (m. b.).

16h.
Trabalho
. Situação de
emergência. Jude acaba de ligar aos prantos do celular e depois
de um tempo conseguiu dizer, com uma voz chorosa, que não
tinha ido a uma reunião da diretoria (ela é Chefe de
Projetos Futuros na Brightlings) porque estava prestes a chorar e
agora estava no banheiro feminino com os olhos borrados como
Alice Cooper e sem bolsa de maquiagem. O namorado dela, Richard
o Vil (sujeito acomodado com horror a compromisso), com quem ela
vai e volta há 18 meses, tinha terminado tudo porque ela
perguntou se podiam passar as férias juntos. Bem típico
dele, mas é claro que Jude estava achando que era culpa
dela.


Sou uma
dependente. Pedi muito mais do que o necessário só
para satisfazer minha carência. Ah, se pelo menos eu
pudesse fazer os ponteiros do relógio andarem para trás.

Liguei em seguida
para Sharon e marcamos uma reunião de emergência
para as seis e meia no Café Rouge. Espero que consiga sair sem
que a droga da Perpétua reclame.

23h.
Noite agitada. Sharon veio logo com uma tese: o que está
acontecendo com Richard é um caso típico de "babaquice
emocional", fato que vem se alastrando como fogo entre os homens
com mais de 30 anos. Ela garante que, à medida que as mulheres
vão passando dos 20 para os 30 anos, o equilíbrio de
poder muda de repente. Até as mulheres mais seguras
perdem as estribeiras, lutando contra os primeiros sinais de angústia
existencial: medo de morrer sozinha e ser encontrada três
semanas depois semi-devorada por um pastor alemão. Idéias
estereotipadas a respeito de solteironas, abismos e migalhas sexuais
conspiram para fazer com que você se sinta idiota, mesmo
que passe um bom tempo pensando nas atrizes Joanna Lumley e Susan
Sarandon.


Homens
como Richard - concluiu Sharon, furiosa - usam qualquer coisa para
fugir da raia, do compromisso, para não enfrentar a
maturidade, a honra e a progressão natural das coisas entre um
homem e uma mulher.

Nesse ponto, Jude e
eu estávamos nos escondendo nos casacos e fazendo
discretamente "pssiu, pssiu" para ela falar mais baixo.
Afinal, não tem nada menos atraente para um homem do que
feminismo irado.


Como
ele pode dizer que você estava levando muito a sério a
relação só porque perguntou se podiam passar as
férias juntos? — gritou Sharon. — Que história
é essa?

Pensando vagamente
em Daniel Cleaver, argumentei que nem todos os homens são como
Richard. Foi aí que Sharon começou a desfiar uma longa
lista de babaquices emocionais entre nossos amigos: uma amiga que
namora há 13 anos mas o namorado não quer nem falar em
morar junto; outra que saiu com um homem quatro vezes e ele terminou
a relação porque estava ficando muito séria;
mais outra que foi perseguida por um cara durante três meses
com propostas de casamento apaixonadas, para três semanas
depois de ela ter aceitado ele cair fora e usar a mesma fórmula
com a melhor amiga dela.

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