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Authors: Helen Fielding

O DIÁRIO DE BRIDGET JONES (5 page)

BOOK: O DIÁRIO DE BRIDGET JONES
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58
kg, 4 unidades alcoólicas, 29 cigarros, 770 calorias (m. b.
mas a que preço?).

Dia de pesadelo na
editora. Esperei Daniel chegar a manhã inteira: nada. Lá
pelas 11h30 estava seriamente preocupada. Será que eu
devia avisar as pessoas? Então de repente Perpétua
berrou no telefone:


Daniel?
Foi a uma reunião em Croydon. Volta amanhã. —
Bateu o telefone e disse: — Ah, essas garotas chatas que ligam
para ele sem parar.

Em pânico,
agarrei o maço de Silk Cut. Que garotas? Como? De algum modo
consegui trabalhar, ir para casa, e num momento de insanidade deixei
um recado na secretária eletrônica de Daniel
dizendo (não, não acredito que fiz isso):


Oi,
aqui é Jones. Estava querendo saber como vai você e
se gostaria de se encontrar comigo para a reunião pela
saúde das saias, como disse.

No
instante em que desliguei percebi que era uma situação
de emergência e telefonei para Tom, que calmamente disse
para eu não me preocupar, ele resolveria o problema:
bastava ligar várias vezes para a secretária eletrônica
até descobrir o código para ouvir os recados e assim
poderia
apagar
o
meu. Depois de algum tempo achou que tinha conseguido, mas
infelizmente Daniel acabou atendendo o telefone. Em vez de dizer
"Desculpe, foi engano", Tom desligou. Assim, Daniel ficou
não só com o meu recado maluco, mas ainda vai
pensar que eu liguei 14 vezes esta tarde e, quando consegui que ele
atendesse, bati o telefone.

TERÇA-FEIRA,
10 DE JANEIRO

57,6 kg, 2
unidades alcoólicas, 0 cigarro, 998 calorias (excelente, m.b.,
uma perfeita santa).

Entrei
no escritório meio escondida, constrangida por causa do
recado na secretária. Tinha resolvido manter total distância
de Daniel mas aí ele apareceu absurdamente
sexy,
e começou a graça com todo
mundo de modo que fiquei em frangalhos.

De repente, Chegaram
Novas Mensagens piscou no alto da tela do computador.

Mensagem para Jones

Obrigado por me ligar.

Cleave

Quase morri. Meu
telefonema sugeria que nos encontrássemos. Quem responde
com "obrigado" e fica por isso mesmo é porque...
mas, depois de pensar um pouco, escrevi:

Mensagem para Cleave

Por
favor, cale a boca. Estou muito ocupada resolvendo um as
sunto
importante.

Jones

E depois de mais
alguns minutos ele respondeu.

Mensagem para Jones

Desculpe
interromper, Jones, a pressão deve ser infernal. Câm
bio
e desligo.

P.S.: Gostei dos seus
peitos nessa blusa.

Cleave

... E
pronto. Mensagens frenéticas continuaram a semana
inteira, terminando com ele sugerindo que nos encontrássemos
no domingo à noite e eu, incrédula, eufórica,
aceitando. Às vezes, dou uma olhada em volta quando estamos
todos escrevendo no computador e fico pensando se alguém está
trabalhando mesmo.

(É besteira
minha ou domingo à noite é um dia estranho para um
primeiro encontro? Tão errado quanto sábado de
manhã ou segunda-feira às 2 da tarde).

DOMINGO,
15 DE JANEIRO

57
kg (excelente), 0 unidade alcoólica,
29 cigarros (mto mto ruim,
principalmente em 2 horas), 3.879 calorias (horrível), 942
pensamentos
negativos (média por
minuto), 127 minutos contando pensamentos negativos (aprox.).

18h.
Completamente exausta depois de passar o dia todo me preparando para
o encontro. Ser mulher é pior do que ser lavrador — tem
tanta coisa para cuidar na plantação e na colheita:
depilar pernas com cera, raspar axilas, tirar sobrancelhas, passar
pedra-pomes nos pés, esfoliar e hidratar a pele, tirar os
cravos, pintar a raiz dos cabelos,
completar o desenho das pestanas, lixar
as unhas, massagear a celulite, exercitar os músculos da
barriga. A coisa
é
tão complexa que basta você esquecer durante uns dias
e lá se vai a plantação.
Às vezes penso como eu ficaria se
deixasse tudo por conta da natureza —
barba comprida,
bigode
de pontas viradas, sombrancelhas grossas, rosto
igual a um cemitério, cheio de
células mortas, espinhas na
pele,
unhas longas como as de Mortícia Adams, cega como
um morcego sem minhas lentes de contato,
o corpo flácido balançando. Argh, argh. É de
espantar que as garotas
sejam
inseguras?

19h.
Não posso acreditar. Quando ia para o
banheiro dar os últimos retoques na plantação,
vi que a luzinha da secretária eletrônica estava
piscando: Daniel.


Olha, Jones,
mil desculpas. Acho que não vai dar para nos encontrarmos hoje
à noite. Tenho de fazer uma apresentação de
campanha às 10 da manhã e ler uma pilha de 45
laudas de texto.

Não acredito.
Levei um bolo. Desperdício total de um dia inteiro de esforço
e energia corporal hidroelétrica. Mas não se deve viver
na dependência dos homens e sim ser uma mulher de fibra.

21h.
É preciso considerar que ele tem um
cargo muito importante. Talvez não quisesse estragar um
primeiro encontro com nervosismo por causa do trabalho.

23h.
Argh. Bem que ele podia ter ligado de novo. Vai ver que saiu com
alguém mais magra do que
eu.

5h
da manhã. O
que eu tenho de errado?
Estou completamente sozinha. Detesto Daniel Cleaver. Não
vou ter mais nada com ele. Vou me pesar.

SEGUNDA-FEIRA,
16 DE JANEIRO

58
kg (saídos de onde? por quê? por quê?),
0 unidade alcoólica, 20 cigarros, 1.500
calorias,

0 pensamento
positivo.

10h30.
Trabalho.
Daniel continua trancado numa
reunião. Vai ver que
era
uma
desculpa sincera.

13h.
Vi Daniel saindo para almoçar. Não
me mandou mensagem nem nada. Mto deprimida. Vou fazer
compras.

23h50.
Acabei de jantar com Tom no quinto andar da
Harvey Nichols. Ele está obcecado por um pretenso cineasta
free-lancer
chamado
Jerome. Reclamei de Daniel, que passou a tarde inteira em
reunião e só às 16h30 conseguiu me dizer "Olá,
Jones, como vai a saia?". Tom disse para não ficar
paranóica, dar tempo ao tempo, mas eu sabia que ele não
estava prestando atenção e só queria falar de
Jerome pois está louco de tesão por ele.

TERÇA-FEIRA,
24 DE JANEIRO

Um dia
maravilhoso. Às 17h30, como uma dádiva dos deuses,
Daniel surgiu, sentou na beirada da minha mesa, de costas para
Perpétua, pegou a agenda e murmurou:


Você
tem algum compromisso para sexta?

Siiim! Siiim!

SEXTA-FEIRA,
27 DE JANEIRO

58,5 kg (mas
cheia de comida genovesa), 8 unidades alcoólicas, 400 cigarros
(como se fossem), 875 calorias.

Hum. Tive um
encontro divino num aconchegante restaurante genovês perto
do apartamento de Daniel.


Ahn...
então tá. Vou pegar um táxi — falei sem
jeito, quando saímos do restaurante. Aí ele afastou
delicamente uma mecha de cabelo da minha testa, segurou meu rosto
e me beijou, com urgência, desesperadamente. Apertou meu
corpo e sussurrou com uma voz rouca:


Acho
que você não vai precisar desse táxi, Jones.

Assim
que entramos no apartamento dele nos enroscamos como dois bichos:
sapatos e casacos formavam uma trilha, espalhados pela sala.

  • Acho
    que a saia não está se sentindo bem — murmurou
    ele. - É melhor ela deitar no chão. — Quando
    começou a abrir o zíper da saia ele sussurrou: —
    Isso é só uma brincadeirinha, certo? Acho que a gente
    não deve se envolver. - Dito isso, continuou abrindo o
    zíper. Se não fosse por Sharon com sua tese da
    babaquice emocional e por eu ter bebido mais de meia garrafa de
    vinho, acho que teriaa caído nos braços dele. Mas
    consegui me levantar, puxando a saia para cima.

  • Isso
    é um absurdo — falei, com a língua meio
    enrolada- — Como você pode ser tão
    falsamente sedutor, covarde e destrambelhado? Não estou
    interessada em babaquice emocional. Tchau.

Foi ótimo.
Valia a pena ver a cara dele. Mas agora que estou em casa, fiquei
deprimida. Posso ter feito a coisa certa, mas tenho certeza de que
minha recompensa vai ser acabar sozinha, meio devorada por um pastor
alemão.

FEVEREIRO

O
massacre do Dia dos Namorados

QUARTA-FEIRA,
1º DE FEVEREIRO

57
kg, 9 unidades alcoólicas, 28 cigarros (mas vou parar logo na
Quaresma, então posso muito bem fumar desesperadamente), 3.826
calorias.

Passei
o fim de semana lutando para ficar
blasée
depois da derrota com Daniel. Fiquei
repetindo as palavras “amor-próprio" e "argh"
sem parar até ficar tonta, tentando reprimir: "Mas
eu gosto tanto dele." Fumei horrores. Parece que existe um
tipo de fumante tão viciado que fica querendo um cigarro
até quando já está fumando. Sou eu. Foi bom
ligar para Sharon e ficar ironizando o fato de eu ser Dona Calcinhas
de Ferro mas quando liguei para Tom ele percebeu logo como eu estava
e falou: "Ah, minha queridinha," o que me fez ficar quieta
para não cair no choro com pena de mim mesma.


É
só esperar — avisou Tom. — Ele agora vai ficar
implorando para sair com você. Implorando.


Não
vai, não — respondi desolada. — Eu estraguei tudo.

No
domingo fui a um grande almoço cheio de calorias na casa dos
meus pais. Mamãe estava toda de laranja berrante e falando
como nunca, tinha acabado de passar uma semana em Albufeira,
Portugal, com Una Alconbury e Audrey, a mulher de Nigel Coles.

Mamãe
foi à missa e de repente teve uma iluminação,
como se fosse São Paulo-a-caminho-de-Damasco: o padre era
gay.

  • É
    pura preguiça, querida — foi a conclusão dela a
    respeito de toda a problemática homossexual. — Eles
    simplesmente não querem se dar ao trabalho de manter
    relações com o sexo oposto. Veja o seu amigo Tom.
    Se tivesse alguma coisa na cabeça, ele sairia com você
    do jeito certo, em vez de ficar com essa história
    ridícula de "somos amigos".

  • Mãe,
    Tom sabe que
    é
    homossexual
    desde os dez anos de idade — garanti.

  • Ah,
    querida! Francamente! Você sabe como as pessoas chegam a
    essas conclusões idiotas. Sempre dá para convencê-las
    do contrário.

  • Você
    quer dizer que se eu for bem convincente você é capaz
    de largar papai e começar um caso com a tia Audrey?

  • Bom,
    assim você está exagerando, querida.

  • É
    mesmo — concordou papai. — A tia Audrey parece um bujão.

  • Ah,
    por favor, Colin — disse mamãe, de um jeito agressivo,
    o que achei esquisito, já que não costuma ser assim
    com papai.

Antes de eu ir
embora, estranhamente, meu pai insistiu em fazer um exame completo no
meu carro, embora eu lhe garantisse que tudo estava funcionando. O
único problema foi que não consegui lembrar como é
que abria o capô.

  • Você
    notou alguma coisa estranha em sua mãe? — perguntou
    ele meio sem jeito, enquanto empunhava a vareta do óleo,
    limpando-a num pano e enfiando de novo no motor, de um jeito
    que os freudianos achariam preocupante. Eu não sou freudiana.

  • Estranha?
    Quer dizer, fora o fato de estar de laranja berrante? —
    perguntei.

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