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Authors: Helen Fielding

O DIÁRIO DE BRIDGET JONES (8 page)

BOOK: O DIÁRIO DE BRIDGET JONES
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Hoje ela pediu para
almoçarmos juntas no café da loja Dickens and Jones e
fui logo perguntando se ela estava saindo com algum homem.

  • Não. Não
    há ninguém no meio dessa história — disse
    ela, fazendo um olhar distante com um toque de corajosa resignação
    que garanto que copiou da Princesa Diana.

  • Então por
    que você está sendo tão cruel com papai?

  • Querida, apenas
    porque, quando seu pai se aposentou, eu percebi que tinha
    passado 35 anos da minha vida tomando conta da casa dele e criando
    seus filhos...

  • Jamie
    e eu somos seus filhos também — interrompi, magoada.


... e que ele
tinha terminado seu trabalho mas o meu ia continuar sempre,
exatamente como eu me sentia quando vocês eram pequenos e
chegava o fim de semana. A gente só vive uma vez. É
simples, eu tomei a decisão de mudar um pouco as coisas e
passar o que ainda me resta da vida cuidando de mim, para variar
um pouco.

Quando
fui ao caixa pagar a conta, fiquei pensando em tudo aquilo e tentando
avaliar o argumento de mamãe sob a ótica feminista.
Nessa hora, vi um homem alto e distinto, de cabelo grisalho,
jaqueta de couro estilo europeu, carregando uma daquelas bolsas
masculinas. Ele procurava alguém no café, olhava o
relógio, parecia nervoso. Dei uma olhada em volta e vi minha
mãe fazendo um movimento mudo com os lábios para
dizer "Já estou indo" e me indicando com um gesto.

Na hora, não
comentei nada com mamãe, só me despedi, depois.
Mas dei a volta no quarteirão e fui atrás dela, para
garantir que não estava imaginando coisas. Era isso mesmo: vi
quando ela entrou na seção de perfumes e ficou
passeando com o bonitão, experimentando no pulso todos os
perfumes expostos, levantando o braço para ele cheirar e dando
risadinhas charmosas.

Quando cheguei em
casa tinha um recado de Jamie na secretária. Liguei para ele
na hora e contei tudo.

  • Ah,
    pelo amor de Deus, Bridget — disse ele, morrendo de rir.
    — Você tem tanta mania de sexo que se visse mamãe
    recebendo a hóstia na comunhão ia achar que ela
    estava dando uma chupada no padre. Você não
    recebeu nenhum cartão do Dia dos Namorados, não
    é?

  • Fique
    sabendo que sim — disse eu, zangada. E ele caiu na gargalhada
    outra vez, depois disse que tinha de desligar porque ia ao parque
    com Becca fazer
    tai chi.

DOMINGO,
19 DE FEVEREIRO

56,7kg (m.b, mas
graças apenas a preocupações), 2 unidades
alcoólicas (mas é o Dia do Senhor), 7 cigarros, 2100
calorias.

Liguei para mamãe
querendo uma explicação sobre o gostosão de
meia-idade que vi com ela depois do almoço.


Ah, você
deve estar falando do Julian — disse ela, com uma voz
emocionada.

Sem querer, minha
mãe se denunciou. Meus pais jamais se referem aos amigos
apenas pelo nome de batismo, É sempre Una Alconbury, Audrey
Coles, Brian Enderby: "Você sabe quem é o David
Ricketts, querida. Casado com Anthea Ricketts, que participa dos
almoços da Associação Salva-Vidas."

No
fundo, falam desse jeito porque sabem que não tenho a menor
idéia de quem é Mavis Enderby, o que não impede
que falem sobre Brian e Mavis Enderby durante quarenta minutos, como
se eu os conhecesse desde os quatro anos.

Percebi
logo que Julian não participava dos almoços da
Associação Salva-Vidas, nem tinha uma esposa que
participava da Associação Salva-Vidas, do Rotary ou da
Liga dos Amigos de São Jorge. Percebi também que ela o
tinha conhecido em Portugal antes do problema com papai, e que era
bem provável que se chamasse Julio e não Julian.
Percebi, enfim, que Julio
era
o
problema com papai.

Comentei
minha suspeita com ela. Ela negou. Chegou até a contar uma
mentira muito enrolada de que tinha esbarrado em "Julian"
na loja de departamentos Marks and Spencer de Marble Arch, deixando
cair no chão sua nova terrina Le Creuset. Por isso, ele a
convidou para tomar um cafezinho na Selfridges e a partir de
então nasceu uma relação completamente platônica
entre os dois que consistia apenas em idas a cafés de lojas de
departamentos.

Por que
será que, quando uma pessoa está largando um
marido/mulher, acha que é melhor fingir que não é
causa de outro/a? Será que acham que é menos doloroso
para o parceiro pensar que vão se separar só porque não
conseguem mais suportá-lo e então duas semanas depois
terem a sorte de encontrar um tipo alto, estilo Ornar Sharif com
bolsa masculina, enquanto o ex-parceiro passa as noites aos
prantos cada vez que vê o copo de escovas de dentes. É
como aquelas pessoas que, em vez de dizerem a verdade, inventam
uma mentira para se desculpar, quando a verdade é melhor
do que a mentira.

Uma vez ouvi meu
amigo Simon cancelando um encontro com uma garota em quem estava
muito interessado porque estava com uma espinha amarela bem do
lado direito do nariz e todas as roupas na lavanderia. Foi trabalhar
com uma jaqueta ridícula, dos anos 70, pensando em pegar a
jaqueta nova na lavanderia na hora do almoço, mas ela não
tinha ficado pronta.

Ele
então deu tratos à bola para dizer à garota que
não podia encontrá-la porque a irmã tinha
chegado de repente e ele precisava lhe fazer companhia e também
assistir a uns vídeos do escritório para o dia
seguinte. A essa altura, a garota lembrou que ele disse que era
filho único e sugeriu que levasse os vídeos para ver na
casa dela, enquanto ela fazia o jantar. Mas não existiam
vídeos do escritório para assistir, então
precisou aumentar mais a mentira. Ele e a garota só
tinham saído duas vezes, mas ela acabou achando que ele
estava saindo com outra e deu o fora. Simon passou a noite sozinho e
chateado, com a espinha no nariz e a jaqueta dos anos 70.

Tentei
explicar a mamãe que não estava dizendo a verdade, mas
ela estava tão envolvida com o sujeito que perdeu
completamente a noção de... bom, tudo.


Você
está ficando um tanto cínica e desconfiada, querida
— disse ela. — Julio — ah! rá-rá-rá!
— é apenas um amigo. Eu só quero conquistar um
espaço.

Então, fiquei
sabendo que, para fazer a vontade dela, Papai está se
mudando para o apartamento onde morava a avó dos Alconbury,
que morreu, nos fundos do jardim deles.

TERÇA-FEIRA,
21 DE FEVEREIRO

Mto cansada. Papai
agora liga várias vezes durante a noite, só para
conversar.

QUARTA-FEIRA,
22 DE FEVEREIRO

57kg, 2 unidades
alcoólicas, 19 cigarros, 8 unidades de gordura (uma idéia
subitamente repulsiva: jamais tinha visto a gordura escorrendo da
bunda e das coxas por baixo da pele. Amanhã vou voltar a
contar apenas as calorias).

Tom tinha toda
razão. Fiquei tão preocupada com meus pais e tão
cansada com os telefonemas desesperados de papai que quase não
tomei conhecimento do Daniel. A maravilhosa conseqüência
disso foi que ele não tirou os olhos de mim. Mas hoje fiz uma
grande besteira. Estava indo comprar um sanduíche e encontrei
Daniel no elevador com Simon do Marketing, conversando sobre
jogadores de futebol que foram presos por receberem "bola",
se venderem.


Soube
dessa história, Bridget? — perguntou Daniel.


Claro
— menti, tentando fazer algum comentário. — Mas
acho que isso é bobagem. É uma atitude boba, mas desde
que eles dêem bola para as mulheres certas, para mim não
tem o menor problema. Não sei por que estão fazendo
tanta onda em cima disso.

Simon
me olhou como se eu fosse doida e Daniel ficou sério um
instante e caiu na gargalhada. Riu sem parar até sair do
elevador com Simon, aí virou para trás e disse,
enquanto as portas se fechavam:


Case
comigo. - Humm.

QUINTA-FEIRA,
23 DE FEVEREIRO

56,7
kg (se ao menos eu conseguisse me manter abaixo de 57 quilos, em vez
de ficar subindo e descendo como o cadáver de um afogado -
afogado
na gordura), 2 unidades
alcoólicas, 17 cigarros (tensão pré-sexo,
perdoável), 775 calorias
(última
tentativa desesperada de chegar a 48,3 kg até amanhã).

20h.
Nossa. O computador quase estourou de tanto ficar piscando o sinal de
mensagem. Às seis em ponto, decidida, vesti meu casaco e
fui embora, mas encontrei Daniel que, no andar de baixo, entrou no
meu elevador. Lá estávamos nós, só eu e
ele, num enorme campo de eletricidade magnética, atraídos
irresistivelmente como dois ímãs. Então de
repente o elevador parou e nos separamos, ofegantes, e Simon do
Marketing entrou com sua horrenda capa de chuva bege sobre o corpo
gorducho. Sem querer, arrumei
minha
saia e ele disse, com um sorriso afetado:


Bridget,
parece que você foi pega recebendo bola.

Quando saí do
prédio, Daniel veio atrás de mim e me convidou para
jantar com ele amanhã. Siiiiim!

Meia-noite
.
Argh. Estou totalmente exausta. Será que é normal se
preparar para sair com um homem como se fosse para uma
entrevista de emprego? Tenho a impressão de que a cabeça
muito culta de Daniel pode acabar virando uma chatice se as
coisas continuarem. Vai ver que eu devia me interessar por um homem
mais jovem e mais desligado que cozinharia para mim, lavaria
minhas roupas e concordaria com tudo o que eu dissesse. Depois que
saí do escritório, quase desloquei uma vértebra
suando numa aula de aeróbica; passei sete minutos esfregando o
corpo com uma escova de cerdas duras; limpei o apartamento; coloquei
comida na geladeira, tirei as sobrancelhas, dei uma olhada nos
jornais e no
Guia de Sexo Hoje,
coloquei
a roupa para lavar e me depilei sozinha, já que estava muito
tarde para marcar hora. Acabei ajoelhada numa toalha tentando
arrancar uma tira de cera que grudou atrás da minha perna
enquanto assistia ao jornal na tevê na tentativa de ter
assuntos interessantes para discutir. Fiquei com as costas doloridas,
a cabeça doendo e as pernas vermelhas e cheias de restos
de cera.

As
pessoas sensatas dirão que Daniel deve gostar de mim do jeito
que sou mas sou uma filha da cultura
Nova-Cosmopolitan,
fui traumatizada por supermodelos e todo tipo
de testes e sei que nem minha personalidade nem meu corpo darão
conta do recado se não forem bem trabalhados. Não
agüento a tensão. Vou cancelar o encontro e passar a
noite inteira comendo biscoitos metida numa camiseta suja de
ovo.

SÁBADO,
25 DE FEVEREIRO
55,
3kg(milagre: prova de que o sexo é realmente o melhor
exercício), 0 unidade alcoólica, 0 cigarro, 200
calorias (finalmente descobri o segredo para não comer: basta
substituir comida por sexo).

18h
.
Ah, que alegria. Passei o dia num estado que só posso
descrever como ebriedade sexual, andando pelo apartamento,
sorrindo, pegando uma coisa aqui, outra ali e colocando-as no mesmo
lugar outra vez. Foi tão bom. Os únicos pontos
negativos foram: 1) assim que terminou, Daniel disse "Droga, eu
combinei de pegar o carro na garagem da Citroën"; 2)
quando saí da cama e fui ao banheiro, ele avisou que
minha meia estava presa atrás da minha perna.

Mas, à
medida que as nuvens cor-de-rosa começam a se dispersar, vou
me apavorando. O que será que vai acontecer agora? Não
combinamos nada. De repente, percebo que estou de novo esperando o
telefone tocar. Como
é
que a situação entre duas
pessoas pode ficar tão angustiantemente indefinida, depois que
dormem juntas pela primeira vez? Tenho a sensação
de que acabo de fazer uma prova e estou aguardando os
resultados.

23h.
Ai, meu Deus. Por que Daniel não ligou? Será que vamos
sair ou não? Como é que minha mãe pode sair com
tanta facilidade de uma relação e entrar noutra,
enquanto eu não consigo nem ter umazinha? Será que a
geração dela é melhor que a minha para fazer com
que as relações dêem certo? Talvez eles não
vivam por aí paranóicos e inseguros. Vai ver que a
melhor ajuda é não ler nenhum livro de auto-ajuda na
vida.

DOMINGO, 26
DE FEVEREIRO

57
kg, 5 unidades alcoólicas (afogando as tristezas), 23 cigarros
(fumando as tristezas), 3.856 calorias
(cobrindo
as tristezas com uma camada de gordura).

BOOK: O DIÁRIO DE BRIDGET JONES
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