Read O DIÁRIO DE BRIDGET JONES Online
Authors: Helen Fielding
—
Não
exatamente.
—
Então,
o quê?
—
Bom,
acho que o jaleco sem nada por baixo é um símbolo meio
óbvio, não?
—
De
quê?
—
De
que a busca inútil de uma vida intelectual está
atrapalhando sua verdadeira meta.
—
Que
é qual?
—
Ora,
preparar todas as minhas refeições, claro - disse ele,
não conseguindo disfarçar como estava se divertindo.
—
E ficar andando pelo meu apartamento sem calcinhas.
SEXTA-FEIRA-FEIRA,
28 DE JULHO
56,
2 kg (preciso fazer uma dieta para amanhã), 1 unidade
alcoólica (m.b.), 8 cigarros, 345 calorias.
Humm.
Daniel estava muito carinhoso ontem à noite e passou horas me
ajudando a escolher uma fantasia para usar na festa Vigários e
Vagabundas. Ficou sugerindo diversas combinações,
depois dizia o que achava. Gostou muito de uma blusa de colarinho
duro e de urna cinta-liga preta de renda, numa mistura de vigário
com vagabunda e acabou resolvendo, depois de me fazer andar um
bocado, que a melhor roupa para mim era o corpete de renda preta da
Marks and Spencer com meias, ligas e um avental igual ao das
arrumadeiras francesas, que fizemos com dois lenços e umas
fitas, uma gravata-borboleta e um rabo de coelho. Daniel foi um
amorzinho de me ajudar. Às vezes acho que ele é muito
gentil. E estava também particularmente inclinado a transar.
Ah, não
agüento esperar até amanhã.
SÁBADO,
29 DE JULHO
55,8kg
(m.b.), 7 unidades alcoólicas, 8 cigarros, 6.245 calorias
(malditos Una Alconbury, Mark Darcy, Daniel, mamãe, todo
mundo).
14h
.
Não acredito no que aconteceu. À uma da tarde, Daniel
ainda estava dormindo e eu comecei a me preocupar porque a festa era
às duas e meia. Resolvi acordá-lo, levei uma xícara
de café e disse:
—
Acho
melhor você levantar porque temos de estar lá às
duas e meia.
—
Lá
onde? - perguntou ele.
—
Na
festa Vigários e Vagabundas.
—
Ah,
meu bem. Escuta, acabo de lembrar, tenho tanto trabalho neste fim de
semana. Vou ter de ficar em casa e fazer essa coisarada toda.
Eu
não conseguia acreditar. Ele tinha
prometido
ir. Todo mundo sabe que quando você está tendo um caso
com alguém é obrigado a agüentar todas as
terríveis festas familiares, mas ele acha que basta citar a
palavra trabalho para se safar de qualquer coisa. Todos os amigos dos
Alconbury vão ficar perguntando sem parar se já arrumei
um namorado e ninguém vai acreditar que arrumei.
22h.
Não acredito no que passei. Dirigi duas horas, estacionei em
frente à casa dos Alconbury e, esperando estar bem na minha
fantasia de coelhinha, entrei pela lateral da casa e fui até o
jardim, de onde vinha um vozerio danado.
Quando comecei a
atravessar o gramado fez-se silêncio e percebi apavorada que,
em vez de Vigários e Vagabundas as mulheres estavam de esporte
fino, usando duas-peças floridos abaixo dos joelhos, e os
homens e calça esporte e suéter de gola em V. Fiquei
ali pasma como, digamos, uma coelha. E enquanto todo mundo me olhava,
Una Alconbury veio correndo pelo gramado num vestido fúcsia
plissado, segurando um cesto de plástico cheio de folhas e
maçãs.
—
Bridget!!!
Que ótimo ver você. Aceita um suco de maçã?
- perguntou.
—
Pensei
que a festa se chamasse Vigários e Vagabundas - sussurrei.
—
Ah,
meu Deus quer dizer que Geoff não telefonou para você? -
disse ela. Inacreditável: será que ela perguntou isso
porque achava que eu costumava andar vestida de coelhinha?
—
Geoff,
você não ligou para Bridget? - perguntou ela e
completou, olhando em volta:
—
Nós estávamos querendo conhecer seu novo namorado. Cadê
ele?
—
Teve
de trabalhar - resmunguei.
—
Como
vai a minha queridinha? - perguntou tio Geoffrey, caindo de bêbado.
—
Geoffrey
- disse Una, gélida.
—
Ombro,
armas. Tudo certo, missão cumprida, sargento - disse ele,
batendo continência, depois desmontou no ombro dela, rindo.
—
Eu liguei para Bridget, mas atendeu uma daquelas coisorrív
falansozin.
—
Geoffrey
– ordenou Una, baixo.
—
Vá ver como está o churrasco. Desculpe, querida, mas
depois de todos os escândalos com os vigários da região,
nós chegamos à conclusão de que não seria
conveniente dar uma festa chamada Vigários e Vagabundas porque
- ela começou a rir - todo mundo acha que os vigários
já são
vagabundos. Ah, querida - continuou, enxugando os olhos, que
lacrimejavam de tanto rir -, mas quem é esse novo namorado?
Por que fica trabalhando num sábado? Argh! Não é
uma boa desculpa hein? Desse jeito, como conseguiremos que você
se case?
—
Desse
jeito, vou acabar como garota de programa - resmunguei, tentando
descolar o rabo de coelhinha.
Senti
que alguém estava me observando e vi Mark Darcy olhando
fixamente para o meu rabo. Ao lado dele estava a alta, magra e
charmosa grande advogada de família num recatado vestido lilás
com paletó, como Jackie O. usava, e óculos presos na
cabeça.
A
bruxa sorriu afetada para Mark e me olhou dos pés à
cabeça, o que era uma grande falta de educação.
—
Você
veio de outra festa? - perguntou ela com voz irritante.
—
Não,
estou indo para o trabalho - respondi. Mark Darcy ouviu, deu um meio
sorriso e desviou o olhar.
—
Alô,
querida, não posso falar com você. Estou gravando a
festa em vídeo - informou minha mãe, apressada, num
esfuziante vestido turquesa plissado e segurando uma claquete.
—
Querida, que roupa é essa? Você parece uma prostituta
ordinária. Agora, por favor, ninguém se mexa eeee -
disse ela para Julio, que estava com uma câmera - ação!
Apavorada,
olhei em volta à procura de papai, mas não o vi. Só
vi Mark Darcy conversando com Una e fazendo um gesto na minha
direção. Una, parecendo muito decidida, veio falar
comigo.
—
Bridget,
estou
tão
sem graça com essa confusão à respeito da festa
à fantasia - desculpou-se ela. – Mark estava dizendo que
você deve estar se sentindo horrível com todos esses
velhos em volta. Quer que eu empreste uma roupa minha?
Passei
o resto da festa usando por cima da fantasia de coelhinha um vestido
de Janine quando foi dama de honra, de mangas bufantes e estampas
florais estilo Laura Ashley, com a Natasha do Mark Darcy achando
graça e minha mãe de vez em quando passando por mim e
dizendo:
—
Lindo
vestido, querida. Corta!
Assim
que me viu sozinha, Una Alconbury perguntou:
—
Acho
que a namorada dele não é grande coisa. - referindo-se
a Natasha.
—
Faz muito o tipo Jovem Senhora. Elaine acha que ela está louca
para agarrar um marido. Ah, olá, Mark! Quer mais um suco de
maçã? Que pena Bridget não pôde trazer o
namorado. Ele é um rapaz de sorte, não? - Tudo isso foi
dito de forma muito agressiva, como se Una tivesse considerado uma
ofensa pessoal o fato de Mark Darcy ter uma namorada que a) não
era eu e b) não tinha sido apresentada a ele por Una num bufê
de peru ao
curry
.
—
Bridget,
como é mesmo o nome dele? Daniel, não'! Pam disse que
ele é um daqueles editores supersuperjovens.
—
Daniel
Cleaver? - perguntou Mark Darcy.
—
É,
é isso mesmo - concordei, empinando o queixo.
—
É
amigo seu, Mark? - perguntou Una.
—
De
jeito nenhum - negou ele.
—
Ahh.
Espero que esteja à altura da nossa pequena Bridget - insistiu
Una, piscando para mim como se tudo aquilo fosse muito engraçado
e não horrível.
—
Quero
deixar bem claro, insisto, que não sou amigo dele. - repetiu
Mark.
—
Ah,
olha só, Audrey está chegando. Audrey! – chamou
Una, sumindo antes de ouvir o que ele disse, graça a Deus.
—
Você
com certeza acha que está muito certo – disse eu,
furiosa, quando ela se afastou.
—
O
quê? - perguntou Mark, parecendo surpreso.
—
Por
favor, não diga "o quê", Mark Darcy -
murmurei.
—
Você
parece a minha mãe - disse ele.
—
Dá
a impressão que você acha muito certo falar pelas costas
do namorado dos outros para os amigos dos pais deles quando eles não
estão presentes só porque você está com
ciúmes - critiquei.
Ele ficou me
olhando, como se estivesse pensando em outra coisa.
—
Desculpe,
estava tentando entender o que você disse. Será que eu
...? Você está dando a entender que tenho ciúme
de Daniel Cleaver? Com você?
—
Não,
comigo não - falei, irritada, vendo que era isso que parecia.
- Eu apenas concluí que deve haver alguma razão para
você ser tão crítico a respeito do meu namorado,
além da pura maldade.
—
Mark,
querido - miou Natasha, atravessando com graça o gramado e se
aproximando. Era tão alta e magra que não precisava
usar saltos, por isso podia andar na grama sem se afundar, parecia
ter sido projetada para isso, como um camelo para o deserto.
—
Venha contar para sua mãe dos móveis de sala de jantar
que vimos na Conran.
—
Eu
só quero que você se cuide, é isso - disse ele
calmamente.
—
E
seria bom que sua mãe também se cuidasse - acrescentou,
fazendo um gesto com a cabeça na direção de
Julio enquanto Natasha o puxava.
Depois
de mais 45 minutos de horror, achei que podia ir embora sem parecer
indelicada com Una. Dei a desculpa de que precisava trabalhar.
—
Vocês,
garotas que trabalham! Tem uma coisa que não podem ficar
adiando para sempre: tique-taque, tique-taque, tique-taque - avisou.
Antes
de me acalmar o bastante para dirigir tive de fumar um cigarro no
carro durante cinco minutos. Aí, exatamente ao entrar na
estrada principal, o carro do meu pai passou pelo meu. No banco ao
lado dele estava Penny Husbands-Bosworth, usando um corpete de renda
vermelho e orelhas de coelhinha.
Quando
cheguei em Londres e saí da auto-estrada estava me sentindo
muito confusa, além de ter voltado mais cedo do que pensava.
Então achei que, em vez de ir direto para casa, podia procurar
um pouco de apoio em Daniel.
Parei de frente com
o carro dele. Toquei a campanhinha mas ninguém atendeu,
esperei um pouco e toquei de novo caso ele estivesse no meio de uma
boa jogada de críquete ou algo assim. Ninguém
respondeu. Sabia que ele estava lá por causa do carro e porque
tinha dito que ia ficar trabalhando e assistindo ao jogo na tevê.
Olhei para a janela do apartamento e lá estava Daniel.