O DIÁRIO DE BRIDGET JONES (23 page)

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Authors: Helen Fielding

BOOK: O DIÁRIO DE BRIDGET JONES
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Acenei
para ele e apontei a porta. Ele sumiu, pensei que fosse, apertar o
botão para abrir a porta, então toquei a campainha
outra vez. Algum tempo depois ele respondeu:


Olá,
Bridge. Eu estava numa ligação para os Estados Unidos.
Posso encontrar você no bar daqui a dez minutos?


Certo
- respondi animada, sem pensar, e fui andando para a esquina. Mas
quando dei uma olhada lá estava ele de novo, não ao
telefone, mas me olhando pela janela.

Esperta
como uma raposa, fingi que não vi e fui andando, mas por
dentro estava transtornada. Por que ele estava me olhando? Por que
não respondeu à campainha logo? Por que não
apertou o botão lá de cima e abriu a porta para eu
entrar? De repente, a idéia me atingiu como um raio: ele
estava com uma mulher.

Com
o coração aos pulos, dei a volta no quarteirão
e, bem encostada na parede, olhei se ele ainda estava na janela. Não
vi ninguém. Voltei rápido e fiquei escondida na entrada
do prédio vizinho, observando entre as colunas se alguma
mulher saía. Fiquei ali, mas depois comecei a pensar: se sair
uma mulher do prédio, como saber se estava no apartamento de
Daniel e não em outro? O que eu faria? Falava com ela? Dava
voz de prisão? Além do mais, ele podia muito bem dizer
para a mulher ficar no apartamento enquanto ia me encontrar no bar.

Olhei
meu relógio. Seis e meia. Ah! O bar ainda não estava
aberto. Boa desculpa. Confiante, voltei para a porta do prédio
e apertei a campainha.


Bridget,
você outra vez? - protestou ele.


O
bar ainda não abriu.

Houve
um silêncio. Será que ouvi uma voz ao fundo?

Negando
a realidade, achei que ele estava apenas lavando dinheiro ou
traficando drogas. Vai ver que tentava esconder sacolas plásticas
cheias de cocaína debaixo das tábuas do chão,
ajudado por um sul-americano esperto de rabo-de-cavalo.


Deixa
eu entrar - eu disse.



disse, estou falando ao telefone.


Deixa
eu entrar.


Como?
- Uma coisa era certa: ele estava tentando ganhar tempo.


Daniel,
aperte o botão - mandei.

Não
é interessante como você consegue sentir a presença
de uma pessoa mesmo sem vê-la ou ouvi-la? Ah,
claro
que eu dei uma olhada nos armários quando subi a escada, não
tinha ninguém neles. Mas eu sabia que tinha uma mulher na casa
de Daniel. Talvez eu tivesse sentido um leve perfume... ou alguma
coisa no comportamento dele. Não importa como, eu
sabia.

Ficamos
de frente um para o outro, desconfiados, na sala de estar. Eu estava
louca para começar a abrir e fechar todos os armários
da casa, igual a minha mãe, e ligar para o 1471 e perguntar se
havia algum registro de ligação dos Estados Unidos.


Que
roupa é essa? - perguntou ele. Na confusão, esqueci que
estava usando o vestido de Janine.


De
dama de honra - expliquei, impávida.


Quer
um drinque? - perguntou Daniel. Pensei rápido. Tinha de fazer
com que ele fosse para a cozinha, assim eu poderia examinar todos os
armários.


Uma
xícara de chá, por favor.


Você
está bem? - perguntou ele.


Estou
ótima! - garanti.

Adorei a festa. Eu era a única pessoa fantasiada, por isso
tive de colocar um vestido de dama de honra, Mark Darcy estava lá
com Natasha, sua camisa é muito bonita ... - parei, ofegante,
percebendo que eu estava igual (não é que "estivesse
ficando") a minha mãe.

Ele
me olhou, depois foi para a cozinha. Rápida, aproveitei para
atravessar a sala e olhar atrás do sofá e das cortinas.


O
que você está fazendo?

Daniel
estava na porta da cozinha.


Nada,
nada. Achei que tinha esquecido uma saia atrás do sofá
- expliquei, tirando as almofadas, enlouquecida, como se estivesse
numa cena de
vaudeville.

Ele
me olhou desconfiado e voltou para a cozinha.

Como concluí
que não havia tempo para ligar para o 1471, olhei rapidamente
no armário onde ele guarda o cobertor do sofá-cama -
não tinha ninguém dentro -, depois fui atrás
dele até a cozinha e abri a porta do armário do
corredor, o que fez com que a tábua de passar caísse,
além de uma caixa de velhos elepês de vinil que se
espalharam pelo chão.


O
que você está fazendo? - perguntou ele outra vez, saindo
da cozinha.


Desculpe,
a porta prendeu na manga da minha blusa - expliquei.

Estava indo ao banheiro.

Daniel
ficou me olhando pasmo, como se eu fosse louca, então não
dava para olhar no quarto. Entrei no banheiro, tranquei a porta e
comecei a remexer em tudo. Não sabia exatamente o que estava
procurando: fios de cabelo louro, lenços de papel com marcas
de batom, escovas de cabelo que eu não conhecia - qualquer
coisa dessas seria uma pista. Nada. Então, abri a porta
devagar, olhei para os dois lados, fui me esgueirando pelo corredor,
empurrei a porta do quarto de Daniel e quase morri de susto. Tinha
uma pessoa lá.


Bridge.
- Era Daniel, empunhando um
jeans
como se quisesse se defender com ele.

O que está fazendo aqui?


Ouvi
você vindo para cá e aí, então, pensei num
encontro secreto - falei, me aproximando de uma forma que seria muito
sexy
,
não fosse o meu vestido de florezinhas. Encostei a cabeça
no peito dele e abracei-o tentando cheirar a camisa para sentir
resquícios de perfume e dar uma olhada na cama, que estava
desfeita, como sempre.


Humm,
você ainda está com aquela roupa de coelhinha por baixo,
não? - perguntou ele, começando a abrir o zíper
do vestido de dama de honra e me apertando de um jeito que deixava
bem claro quais eram suas intenções. De repente, me
ocorreu que aquilo podia ser um truque e que ele ia me seduzir
enquanto a mulher escapava tranqüilamente.

Ah, a chaleira deve estar fervendo - disse Daniel de repente,
fechando o zíper do meu vestido e me dando uma palmadinha de
um jeito que não era o dele.

Quando
começa, ele costuma ir até o fim mesmo se houver um
terremoto, maremoto ou aparecer uma foto da ministra Virginia
Bottomley nua na tevê.


Ah,
sim, é melhor fazer o chá - falei, achando que isso me
daria a chance de dar uma olhada no quarto e no escritório.


Pode
passar - disse Daniel, me empurrando para fora do quarto e fechando a
porta de forma que fui andando na frente dele até a cozinha.
No meio do caminho, vi a porta que dava para o terraço, na
cobertura.


Vamos
sentar na sala? - perguntou Daniel.

Ela
estava lá, no maldito terraço. Quando olhei desconfiada
para a porta, ele perguntou:


O
que houve?


Na-da
- respondi numa vozinha cantante, indo para a sala.

Só estou um pouco cansada da festa.

Me
joguei no sofá parecendo muito à vontade e pensando se
devia, mais rápido do que a luz, ir até o escritório,
derradeiro local onde ela devia estar, ou correr até o
terraço. Achei que, se não estivesse no terraço,
estaria no escritório, no guarda-roupa do quarto ou embaixo da
cama. E portanto, se subíssemos para o terraço, ela
poderia fugir. Mas se fosse esse o caso Daniel já teria
sugerido irmos para o terraço antes.

Ele
me trouxe uma xícara de chá e sentou em frente ao seu
laptop
,
que estava aberto e ligado. Só então comecei a achar
que talvez não existisse mulher nenhuma. Havia um texto na
tela - quando cheguei, talvez ele estivesse mesmo trabalhando e
falando com alguém nos Estados Unidos. E eu, idiota, estava me
comportando como uma doida.


Tem
certeza de que está tudo certo com você, Bridge?


Tudo
ótimo. Por quê?


Bom,
você aparece na minha casa sem avisar, num vestido de coelha
disfarçada de dama de honra, e fuça todos os.quartos.
Se não era para espionar alguma coisa, eu gostaria de saber o
porquê, só isso.

Fiquei
me sentindo uma completa idiota. Era a droga do Mark Darcy tentando
atrapalhar minha relação fazendo com que eu ficasse
desconfiada. Pobre Daniel, era tão injusto ficar duvidando
dele só por causa do que disse um sujeito arrogante,
mal-humorado, grande advogado de direitos humanos. Foi aí que
ouvi alguma coisa sendo arrastada no terraço, em cima.


Acho
que estou com um pouco de calor - falei, prestando atenção
em Daniel.

Vou subir e sentar no terraço um pouco.


Pelo
amor de Deus, será que você não pára um
instante? - gritou ele, tentando impedir que eu passasse, mas fui
mais rápida. Passei, abri a porta, subi as escadas correndo e
abri a portinhola para o terraço ensolarado.

Lá, estirada
numa espreguiçadeira, estava uma loura longilínea e
bronzeada, completamente nua. Fiquei paralisada,me sentindo um enorme
pudim no vestido de dama de honra. A mulher levantou a cabeça,
tirou os óculos de sol e virou-se para mim, com um dos olhos
fechados. Ouvi Daniel subindo as escadas.

Olhando
para ele, a mulher disse, com sotaque americano:


Mas,
meu bem, você não disse que ela era
magra?

AGOSTO

Desintegração

TERÇA-FEIRA,
1º DE AGOSTO
56,2
kg, 3 unidades alcoólicas, 40 cigarros (parei de tragar para
poder fumar mais), 450 calorias (não estou comendo), 14
ligações para o serviço 1471, 7 bilhetes de
loteria.
5h
da manhã.
Estou
um caco. Meu namorado está transando com uma giganta
bronzeada. Minha mãe está transando com um português.
Jeremy está dormindo com uma vadia horrorosa, o Príncipe
Charles está transando com Camilla Parker-Bowles. Não
sei mais no que acreditar ou onde me apoiar. Tenho vontade de ligar
para Daniel, na esperança de que ele negue tudo, dê uma
explicação plausível para aquela valquíria
desnuda no terraço - uma irmã mais jovem, uma vizinha
amiga que estava se recuperando de uma gripe, alguma coisa assim - e
faça com que tudo volte ao lugar. Mas Tom grudou no meu
telefone um papel onde está escrito: "Não ligue
para Daniel ou vai se arrepender."

Eu
devia ter ido para a casa de Tom, como ele sugeriu. Detesto ficar
sozinha no meio da noite, fumando e choramingando como uma doida.
Tenho medo que Dan escute no andar de baixo e ligue para o hospício.
Ai, Deus, o que tenho de errado? Por que nada funciona comigo? É
porque estou muito gorda. Penso em ligar para Tom outra vez, mas
liguei faz menos de uma hora. Não tenho vontade de ir
trabalhar.

Depois
do encontro do terraço, eu não disse nada: empinei o
nariz, passei por Daniel, desci a escada, entrei no meu carro e fui
embora. Direto para a casa de Tom, que entornou vodca na minha
garganta, depois acrescentou o suco de tomate e o molho Worcester.
Quando cheguei em casa, a secretária tinha três recados
do Daniel pedindo para eu ligar. Não liguei, seguindo o
conselho do Tom, que garantiu: a única forma de ter sucesso
com os homens é ser bem má com eles. Sempre achei isso
uma atitude cínica e equivocada mas fui legal com Daniel e
olha o que aconteceu.

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